Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

Interlúdio VIII

Afastei-me dela durante esse período de preparativos, eu precisava limpar minha mente e clarear meu espírito, afinal de contas ela seria minha primeira cria e além da minha própria transformação e dos relatos das crônicas eu não tinha certeza de que conseguiria fazer tudo direito. Disse-lhe que me ausentaria por dois meses, voltaria para casa e deixaria tudo pronto para sua chegada, e que ela usasse esses dois meses para se despedir de todos aqueles a quem ela quisesse bem. Nossa despedida, mesmo que por um curto período não foi fácil, ambos choramos e trocamos mais e mais juras de amor eterno, eternidade que estava apenas a um passo de se realizar.

Nesses dois meses longe dela, o tempo se arrastava lentamente, cada sengundo se fazendo sentido por inteiro cou que soubessem o que estava acontecendo. Preparei minha casa em Berlin para sua nova hóspede de modo que ela se sentisse a vontade com tudo, mudei toda a decoração e instruí a criadagem sobre como agir na sua chegada. Seus pais haviam concordado com a proposta do colégio interno e um de meus agentes a traria para mim. Já estávamos longe por tempo demais tempo o bastante para que na véspera de sua chegada eu já não conseguisse raciocinar claramente.

Tudo preparado de modo que ela pudesse fazer uma visita a Berlin durante o dia, ver as maravilhas da cidade pela primeira e última vez sob a luz do sol, durante as noites, nos amávamos talvez com mais ardor do que antes. Ela ficou deslumbrada com tudo o que viu, principalmente com minha casa e com nosso quarto preparado especialmente para sua chegada.

Logo veio a noite fatídica, saí cedo de casa, precisava estar bem alimentado para realizar a transformação, quando cheguei, ela já estava me esperando, linda em uma camisola de seda, seus cabelos presos em uma trança perfumada e seus olhos brilhando com a alegria dos mortais. Levei-a para os meus aposentos secretos, a limpei e preparei para a vida eterna, pois seu corpo não mais conheceria a mudança. Deixei seus cabelos longos, no mais removi todos os seus outros pêlos, deixando-a como uma criança, minha linda criança.

Finalmente eu beberia seu sangue, esse sangue pelo qual ansiava a tanto tempo, ela me envolveu em um abraço e eu toquei seu pescoço com minhas presas, senti um calafrio atravessar meu corpo ao perfurar a pele e um êxtase indescritível quando as primeiras gotas de seu sangue tocaram minha língua. Nesse momento éramos um, nossas lembranças sendo trocadas, suas memórias de menina entrando em minha mente e seu sangue entrando em minha boca como ferro derretido. Senti seu abraço afrouxar e dei-me conta de que quase a havia matado, ela iria morrer naquela noite, mas não sem nascer para a vida eterna. Rasguei a pele do meu pulso esquerdo e aproximei de sua boca enquanto a instava para beber, beba meu amor, minha criança, minha cria, beba o sangue amaldiçoado de seu pai, beba para nos unirmos na noite eterna.

Bebendo quase em forças no começo, ela logo estava sugando voraz como um recém-nascido em sua primeira mamada, e era exatamente o que estava acontecendo ali. Mais uma vez nossas mentes se tornaram uma e memórias foram trocadas pela última vez antes que uma pesada cortina caísse entre nossos pensamentos para sempre. Logo ela foi acometida pelas dores de sua morte humana, levantei-a em meus braços e a levei para uma banheira onde todas as impurezas pudessem ler lavadas, fiquei a seu lado cantando uma velha cantiga que minha mãe costumava cantar para mim quando eu era criança, e logo ela adormeceu. Não mais como humana, mas sim como imortal, minha amada primeira cria e amante para toda a eternidade.

Adormecida, sonhando seus sonhos de menina é como ela está agora, deitada em nossa cama enquanto eu escrevo essas parcas linhas e velo seu sono, logo ela despertará e sairemos para nossa primeira caçada de muitas que ainda virão...

Espero não ter aborrecido você leitor, com este meu relato, espero ainda poder escrever uma outra vez, pois descobri finalmente porque eles escreveram tanto sobre nós e sobre si mesmos. Ao escrever descobri uma paz de espírito que antes eu julgava inalcançável. Aí está, minha primeira obra, quem sabe eu não escreva minhas próprias crônicas um dia? Mas agora devo ir, a noite ainda é uma criança e minha amada já desperta faminta em sua nova condição.

Adeus.

Fim
Espero que tenham gostado, caso não, paciência. Só lhes peço uma coisa: comentem, por mais sem sentido que o comentário possa parecer, para mim, cada um deles é um incentivo a continuar escrevendo.

3 comentários:

como já havia dito, devorei essa crônica..como se estivesse sentindo o sabor do sangue..no qual Victor se refere em determinadas partes da crônica.Por diversas vezes me senti parte da história,e por diversas me vi como uma das tais garotas..que sonham com um dia..um ser imortal aparecer em minha janela..e me oferecer a vida eterna.
Uma história envolvente, que nos consegue colocar, com tais palavras, em cada minuto dos acontecimentos; Curta e deveras instigante.
Li, aprovo e deixo minha parabenização a você Ciro, além de minha recomendação a outros seguidores do blog.
(ps: não só me senti como se devorasse uma presa há muito esperada como Victor, como ainda anseio por mais desse sangue.)

 

Gostei bastante, apesar de não entender certos detalhes da trama. É uma história que prende a atenção do leitor até o fim. Continue trabalhando.

 

Hey, como já te disse, adoro a forma como vc escreve! E chegou um momento que tive q imprimir tudo pq queria terminar de ler e tinha q sair.
Vc prende minha atenção a cada frase, e termina com um “ cadê o resto?” gerando uma grande expectativa pelo próximo post.
Agora fica a expectativa de uma continuação (não vai parar agora ne?!), pois ao q parece nao sou a única ansiosa pra saber o q acontece depois...

(Finalmente consegui comentar... so dava erro oO)

 

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