Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

III

Desvairadas lembranças, doudas dançam se partindo e se cruzando, em seu caminho nada além do caos restando.
Memórias sombrias, desejos esquecidos, perdidos, cativos, pulsantes eternos na missão de se fazerem vivos.
E as flores? Eternas fortalezas, frágeis como o vidro, pérolas da mente, alimento do espírito, se quebram, se partem se perdem levadas pelo vendaval de emoções como se nunca houvessem existido.
Minha Rosa é a excessão, rubra e imponente, pálida e atraente, azul como o céu do meio-dia, verde como o mar com suas desertas ilhas. Se esconde mostrando, o desejo atiçando, se fecha abrindo, minha vontade aos poucos se esvaindo.
Única, plena, imperfeita, mas para sempre minha eleita. Altiva foge e se esconde, nada muito sério, nunca muito longe, maravilhosa perfeição imperfeita, não há para mim no mundo nenhuma outra assim; mulher, mas eterna garota travessa.

II

O céu desaba em uma chuva que parece ter pressa de ser, vem rápida e aos montes, açoitando sem piedade tudo em seu caminho. A cidade, inimigo natural da chuva, tenta em vão represá-la, prendê-la, tirar sua força e beleza, mas essa não é uma chuva comum, essa chuva é velha, sábia e ainda se lembra de quando não havia cidade e apenas a natureza dominava.

Meus pensamentos se movem para essa época longínqua, apesar de nunca tê-la vivido, posso vê-la ao ver as árvores sendo sacudidas pela chuva e o vento através da minha janela. A visão chega a ser real o bastante para que cheiros cheguem até meu nariz, cheiro de terra molhada, rico e cheio e vida, cheiro inebriante da seiva derramada por inúmeras plantas que existem ali.

Fico embriagado com a magnificência do lugar, caminho por entre as folhagens e as altas árvores, tão velhas quanto o mundo e junto ao chão a poderosa chuva nada mais é do que uma fina garoa filtrada pelas frondosas copas, a terra se mistura as folhas caídas escondendo mais vida do que meus olhos são capazes de ver. Ainda assim os animais se escondem em seus lares temendo pela segurança de sua prole, mas eu não. Tenho a floresta só para mim, somos um: ela, a chuva e eu.

O sonho acaba quando meu telefone toca, ainda estou na cidade que tomou o lugar da floresta mas ninguém parece notar isso. A chuva não se esqueceu, as árvores não se esqueceram, eu nunca esquecerei.

I

Começos sempre foram difíceis para mim, mas não tão difíceis quanto os finais que assombram minha mente a cada novo começo. Infinitas idéias esvoaçam em minha cabeça, mas como seu criador, são tímidas e fogem às minhas tentativas de prendê-las aqui.

O motivo pos trás disso me escapa, se são minhas idéias porque não me obedecem? Talvez o medo de me revelar em palavras seja grande o bastante para causar essa fuga desenfreada, talvez sejam apenas meias-idéias com lindas e brilhantes cascas, mas vazias de sentido ou razão de ser.

Apesar disso continuo tentando, sem coragem para acreditar que o vazio das idéias seja apenas meu vazio no final das contas