Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

XXX

E mesmo no pior do inverno, quando a caça se escasseia e a preocupação com a sobrevivência aumenta, é preciso tirar um tempo apenas para o coração...

XXIX

Minhas resoluções (principalmente as relacionadas a mudanças) sempre foram como castelos de areia construídos na praia da vida. Invariavelmente a maré subia e as ondas do mar das desilusões vinham e destruíam os castelos, jogando por terra todas as minhas resoluções.


Assim quando a mudança acontece sem que resolução alguma tenha sido feita é estranho, não houve o desejo, não naquele momento, mas ainda assim ela aconteceu.


Felicidade, um sentimento de plenitude, coisas que jamais eu havia experimentado antes se tornaram lugar comum e a tristeza constante, apenas uma lembrança desbotada...


Fé, eu tenho fé que isso irá permanecer assim por um bom tempo, é o que os olhos dourados da raposa me dizem e sem medo algum no coração, sigo em frente.

XXVIII

Você já viu uma corsa selvagem? Se não, ou apenas pela televisão deixe-me explicar como é...

Ela fica parada te encarando, prestes a correr a qualquer momento. Seu coração bate rápido enquanto você tenta se aproximar sem fazer qualquer movimento brusco ou perder o contato visual. Você diz suavemente que não quer lhe fazer mal, ela, no entanto, sem entender o que você diz, se guia pelo tom da sua voz. Caso você tenha sorte conseguirá se aproximar bastante para acariciá-la... E quando você menos espera, ela foge, correndo para a mata tão rápido que fica difícil dizer se ela realmente esteve ali.

Eu digo isso, amigo leitor, pois é exatamente assim que eu vejo o amor. Apesar de tantos escritores através do tempo o terem descrito infinitamente melhor do que eu, ainda assim tenho que tentar.

Conquistar o amor de alguém, é como tentar se aproximar de uma corsa selvagem, é como aprender uma língua nova que não sai da sua cabeça...

E sem ter dito muito, me despeço, mesmo querendo dizer mais sobre o amor, ainda não conquistei o meu, que por enquanto é uma corsa selvagem e todo cuidado é pouco, e todas as palavras insuficientes e todo o tempo... insignificante.

XXVII

Caí e levanta, deixa teu corpo mostrar o caminho, as feridas que se abrem inevitavelmente vão se fechar deixando apenas cicatrizes, que embora feias, são mais resistentes e não irão se ferir tão facilmente da próxima vez.

Embotoa a mente, caleje o coração, torna-te insensível de corpo e alma, pois no caminho que escolheste não haverá tempo para a tristeza e o sofrimento, tampouco para o amor...

Gasta tua voz até que ela se perca para sempre, do contrário teus gritos o levarão à loucura, e louco não conseguirás prosseguir. Abandona também o medo, medo que irá te afastar do caminho, o caminho é duro, sim, mas o tomaste por conta própria.

Leva contigo apenas teu nome e não o perca jamais! Sem teu nome não serás ninguém e sendo ninguém o caminho não terá importância alguma.

Caminha e caminha, fortalece tuas pernas e caminhe mesmo que o fim esteja longe, abandone tudo e esqueça tudo, menos de teu nome e de como caminhar...