Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

Interlúdio VI

Finalmente veio a noite e com ela a tão esperada festa, mesmo estando ligeiramente atrasado – a festa começaria às cinco da tarde, com o sol ainda me impedindo de sair – demorei um pouco me preparando, eu simplesmente não conseguia decidir o que vestir, no final das contas acabei colocando uma calça jeans e uma blusa preta de gola alta, também fiz a barba e penteei meus cabelos para que eles parecessem despenteados, algo que está moda entre os mortais atualmente. Ao descer encontrei com o rapaz que havia me convidado, ele disse que ficou me esperando a tarde toda na recepção, pois foi impedido de me chamar uma vez que eu tinha deixado claro que não queria ser incomodado por ninguém.

Enquanto nos dirigíamos a festa culminei meu companheiro de perguntas sobre as pessoas que deveríamos encontrar lá, ele por sua vez também me encheu de perguntas sobre as mulheres da Rússia, e do estilo de vida do qual ele ouviu dizer que levávamos. Acabei me distraindo ao descrever minha amada Rússia em seus mínimos detalhes e estava assim, distraído quando chegamos.

A festa era em uma casa modesta, estavam todos reunidos na garagem bebendo e conversando tendo algo que os jovens mortais costumam chamar de música (com guitarras e vocais horrendos, parecia que o vocalista era um porco agonizante) tocando ao fundo. A primeira coisa que fiz foi procurá-la com os olhos, a encontrei sentada em um canto conversando animadamente sobre um assunto qualquer, mesmo sorrindo seus olhos ainda mostravam apenas a tristeza que permeava seus pensamentos, mais uma vez fui acometido da vontade de possuí-la ali mesmo, rasgar seu pescoço e beber seu sangue cujo perfume já estava me deixando louco, mas não, você deve se ater a seus planos, disse a mim mesmo, vai se aproximar dela como mortal, e mortal você é hoje.

Depois de ser apresentado a todos recebi um copo cheio de cerveja e uma cadeira, sentado ali me pus mais uma vez contar aquela história sobre ter acabado de me formar e estar de viagem pelo mundo. Já acostumado com a habitual torrente de perguntas sobre o meu estilo de vida e até mesmo algumas sobre os boatos que corriam sobre mim, eu só esperava o momento certo para me aproximar dela, que continuava sentada em seu canto, só que agora solitária, olhando fixamente para a cerveja em suas mãos enquanto seu pensamento alçava vôo, indo para longe dali.

Só consegui meu momento a sós com ela quando os convidados da festa começaram a dar sinais de embriaguês. Sentei-me ao seu lado e não soube o que fazer, me senti estúpido com ela sentada do meu lado e eu sem ao menos conseguir iniciar uma conversa, quantas vezes não imaginei o que iria dizer a ela e sobre o que conversaríamos. Mas quando ela começou a conversa fiquei surpreso, tão feliz que por mais que eu me esforce não consigo me lembrar exatamente das palavras que foram trocadas, apenas guardo em meu peito o sentimento de felicidade, que compartilhamos por aqueles breves momentos.

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