Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

XII

É triste descobrir que toda sua vida cabe em uma pequena caixa.

Provoca uma sensação estranha no peito, como se a vida até agora foi algo tão insignificante, quase nada, nem o bastante para encher uma caixa...

E então, antes que esses pensamentos tristes me levem para a parte sombria da minha alma, onde o sol nunca brilha, ouço ela dizer em minha cabeça: "Você não pode guardar suas memórias em uma caixa!". O que me faz pensar: Mesmo que minhas posses terrenas caibam em uma pequena caixa, minha vida não foi insignificante ou vazia, pelo contrário!

Todas as coisas que fiz, as pessoas que conheci, os sentimentos que guardei, os sonhos que realizei e os que ainda vou realizar, essas coisas não podem ser guardadas em uma caixa, e são por elas que eu devo medir minha vida.

São as memórias, tanto as que guardamos quanto as das outras pessoas nas quais tomamos parte, que podem dizer se a vida foi boa ou ruim. Estou satisfeito com as minhas...

E você, está satisfeito com as suas?

XI

Estou com medo.

Estou com medo de morar sozinho e das responsabilidades que isso trará, com medo da solidão vir com mais força no meio da noite tirando meu sono e me fazendo chorar.

Estou com medo de me afastar do mundo e ficar preso dentro da minha cabeça apenas com meus pesadelos, medo de que todos me esqueçam e não exista mais um lugar para voltar.

Cansei de me fazer de forte quando no fundo sou tão ou mais frágil que a maioria, quero alguém que seque minhas lágrimas, me dê um abraço bem forte dizendo que tudo vai dar certo e que segure minha mão quando os sonhos forem ruins.

Quero que o medo vá embora.

X

Meu reflexo no espelho está errado.

Vejo-me novamente com os cabelos longos, as roupas pretas e aquela cara de poucos amigos.

Meu reflexo tem os olhos vazios, não há vida neles, apenas tristeza. Eu realmente fui assim? Não me lembro...

Talvez seja impressão minha, mas meu reflexo parece desapontado comigo, o que eu posso ter feito de errado? Sei que mudei, mas no fundo continuo o mesmo, apenas mais feliz com aquela felicidade que chegou de mansinho e não parece querer ir embora.

"Ei reflexo, espere! Por que vira as costas para mim? Não vê que não posso te alcançar do outro lado?"

Minhas mãos batem contra o espelho que se quebra mostrando a parede, filetes de sangue escorrem dos pequenos cortes que ficaram, eu queria muito abraçar meu reflexo e dizer que as coisas serão melhores no futuro, mas ele se foi e mesmo ainda estando feliz ficou um aperto no peito... O que será que aqueles que me conheceram com os olhos tristes e vazios pensam de mim? Eles seriam capazes de me reconhecer hoje?

Não sei a resposta, mas adoraria descobrir.

IX

Estou feliz.

Essa felicidade veio assim, de mansinho como quem não quer nada se esgueirando por entre meu mau humor matinal logo tomando conta de mim.

É uma felicidade sem explicação, estou feliz e isso basta. Quero que ela cresça e cresça até que meu coração não possa mais aguentar e eu morra assim, feliz.

Mas que ela não dure para sempre, nem que seja longa ao ponto de que eu nem me lembre mais como é ser triste e que para mim tristeza se torne apenas mais uma palavra no dicionário e nada mais, não quero uma felicidade assim. Ser sempre feliz nunca tendo conhecido a tristeza não tem graça, como saber o que é felicidade sem conhecer a tristeza? Simplesmente não dá para valorizar uma felicidade assim.

Que os momentos de tristeza existam, para que os de felicidade, mesmo que fulgazes, brilhem como o sol.

VIII

Voltando para casa depois de visitar o campo onde nasceu, a Raposa pensa em como tudo estava diferente por lá.

Os velhos amigos, a muda de suas pelagens adiantada mas não terminada, praticamente adultos e irreconhecíveis, a não ser pelo cheiro. Os cheiros nunca mudam.

A colina da Rosa cheia de novas flores, apenas botões quando partiu, e muitos outros botões que por lá nasceram nesse tempo.

É difícil não se perguntar se tudo vale a pena, é difícil apenas olhar para frente sem nunca desejar ardentemente voltar no tempo, é difícil viver sem o perfume da Rosa. Difícil, quase -mas não completamente-, impossível.

E esse é o medo da Raposa.

VII


Amar tanto que basta a pessoa amada ser feliz, mesmo que com outro. Não consigo amar assim, ou mesmo pensar nesse sentimento como amor, sou egoísta demais para isso. Quero que ela seja feliz sim, mas ao meu lado compartilhando os pequenos pedaços de felicidade que dão cor à vida.

VI

"Vende-se sonhos"
Era o que dizia a simples placa pendurada sobre um porta humilde. Movido pela curiosidade entrei, e nada poderia me preparar para o que vi dentro da suposta loja de sonhos...
Brinquedos, fantasias, coisas sem fim espalhavam-se pelo lugar, sobre tudo havia uma fina camada de poeira por onde de quando em quando se podia ver o o brilho de algum tesouro escondido. Atrás de um balcão que se parecia com o palco de um teatro um velhinho sorridente me observava enquanto eu me perdia admirando o encanto do lugar.
"Então você quer um sonho?" perguntou, eu arrancado de meus devaneios mal consegui balbuciar um sim. Como se ainda esperasse que eu dissesse algo, o velhinho continuou me observando sempre com aquele sorriso nos lábios. Sorriso sincero, daqueles trazem à tona toda a alegria que as vezes nem imaginávamos que havia dentro de nós. Acabei criando coragem e perguntando: "Que tipo de sonhos você vende?"
"Todos eles, dos mais pequenos, e nem por isso menos importantes, aos enormes que só podem ser carregados por muitas pessoas". Sem esperar que eu dissesse mais nada tirou um pequeno embrulho de debaixo do balcão, o embrulho dourado preso com fitas brancas, pequeno o bastante para caber na palma da mão, não parecia um sonho tão grande assim, ainda assim ele me disse: "Tome, este é o seu".
"Tão pequeno assim?" eu disse um tanto ressentido, sempre pensei que meus sonhos haveriam de ser colossais, daqueles sonhos capazes de mudar o mundo, mas nada assim poderia caber em um pacote tão pequeno. Me aproximei do balcão e apanhei o pacote, leve o bastante para me levar a crer que estava vazio, seria meu sonho algo bonito por fora e carente de conteúdo?
"Não se preocupe, aqui eu não vendo sonhos maduros, apenas suas sementes. Cabe a você agora cuidar delas para que seu sonho cresça grande e forte meu filho". Abri o pacote e não havia nada lá dentro, desapontado perguntei o que aquilo significava, com um tom de voz compreensivo, que fez com que eu me sentisse de novo uma criança, ele respondeu:
"Elas já estão com você, sempre estiveram, plantadas em seu coração. A loja só serve para lembrar as pessoas disso, de que todos temos em nossos corações as sementes dos sonhos, para que elas germinem e cresçam é preciso apenas de uma coisa: acreditar. Enquanto você acreditar seu sonho irá crescer forte e quem sabe um dia não se torne realidade? Agora vá meu filho, não se preocupe com o pagamento, só peço que você não deixe seu sonho morrer, isso será pagamento o bastante para mim".
Acordei com o sentimento de alegria ainda forte no peito, eu queria voltar a loja de sonhos e conversar com aquele velhinho e seu sorriso mágico. Talvez esse seja meu sonho, talvez apenas uma parte dele, agora só posso acreditar e acreditar, para que meu sonho não seja apenas um embrulho vazio.

V

Ao assistir esse vídeo fui acometido de uma imensa nostalgia, algumas fotos tem mais de cinco anos e ao revê-las, um pouco dos sentimentos da época voltaram. Foram tempos felizes onde quase não havia com o que se preocupar, éramos todos jovens (bem, quase todos, mas não pretendo me prender muito aos detalhes) e a vida ainda era uma caixa de suspresas, felizes em sua maioria.

Penso em todos aqueles que se foram, pelo tempo ou pela distância, deixando apenas as boas lembraças dos momentos vividos juntos. Penso no quão diferente as coisas estão agora, no quanto a maioria de nós amadureceu e especialmente nas amizades que apesar da distância se mantém fortes.

No fundo, amizade deve ser isso; não importa por quanto tempo ou quão longe fiquemos, que no reencontro será como se nunca tivéssemos nos separado.

IV

Pensei em escrever alguma coisa sobre sentimentos hoje, mas estou sentado em frente ao computador com a mente em branco, nenhuma palavrinha quer sair hoje...

Talvez seja porque para descrever algo tão complexo quanto os sentimentos, palavras não sejam o bastante, ainda mais palavras que aparecerão na tela fria de um computador. Isso as deixa tímidas, afinal de contas é uma grande responsabilidade para elas significar não somente o que se pode ver de cara, mas deixar transparecer o que o autor sentia quando escreveu.

Sentimentos, sentimentos... Nem as palavras ditas conseguem te expressar completamente! Eu gostaria de escrever-te uma carta, onde minha mão, tremendo de emoção, deixaria nas palavras a marca do que sinto, e se os sentimentos fossem intensos o bastante para me arrancar lágrimas, que as marcas das poucas que caíram no papel lhe dêem uma idéia das muitas que derramei enquanto escrevia pensando em você longe, longe... E ao ler essa carta, escrita com tanto esmero pensando em mim assim também tão longe, lágrimas viriam aos seus olhos também, por que não? E ao se misturarem com as minhas a distância entre nós talvez não seja mais tão grande e sim logo ali, tão perto quanto um pensamento...

Ai de mim, com minhas palavras jogadas a esmo, coitadas! É por eu dar a elas responsabilidades tão grandes como essa, que fogem de mim quando mais preciso delas.