Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

XXVI

Minha ânsia de viver não se satisfaz apenas com uma vida, assim sendo, vivo várias ao mesmo tempo, vidas onde sou o herói que salva a mocinha ou o vilão que causa toda a destruição. Sou o cavaleiro que mata o dragão e o pirata que navega pelos mares em busca de um lugar para enterrar o seu tesouro. Sou eu e sou você, tudo junto quase igual, mas completamente diferente.

Crio e destruo mundos com a rapidez do pensamento, mundos onde mato, morro, sofro, amo, odeio, um caleidoscópio de emoções e sentimentos que se misturam na interminável ciranda de vidas.

Só há um problema: não tenho na minha cabeça lugar para tantas vidas, impossível mantê-las todas lá e ainda saber quem eu sou. Recorro então ao papel e a caneta e despejo nas páginas em branco o que não consigo guardar, mas que ainda é importante, senão essencial, para aplacar essa minha ânsia de viver, imensa e sem igual.

P.S.: Vou tentar programar minhas atualizações de forma que toda sexta-feira eu tenha algo novo para postar aqui.

XXV

O coração bate acelerado, o suor se acumula frio nas têmporas, a voz se torna um sussurro e as mãos não param de tremer. Ela pergunta o que há de errado comigo, como ela não poderia saber, sendo a causa de tudo isso? Abaixo os olhos e digo que é ressaca. Rindo ela diz que já tinha quase certeza, meu sorriso amarelo tenta acompanhá-la sem grande sucesso, o que ela não parece perceber.

“Vamos?”, sussurro mais do que falo, e ela diz sim. Saímos então em direção a sorveteria, ela me perguntando trivialidades, eu, lutando contra o nervosismo que ameaça me deixar mudo, tento responder na medida do possível.

Servimos-nos, sentamos e deixo que ela fale e fale... Minhas respostas as suas perguntas são em sua grande maioria monossilábicas e com a cara enterrada no sorvete evito um contato direto com seus olhos, em minha mente me vejo dizendo tudo o que sinto, ela dizendo que sempre sentiu o mesmo, então nos beijamos e somos felizes para sempre... Devaneios...

Quando o sorvete acaba, meu escudo se vai e tento, em vão, manter meu olhar preso ao dela, simplesmente não dá, impossível, pelo menos para mim. Lembro-me então de meus óculos escuros e os coloco podendo então me entregar ao caleidoscópio de emoções em seu olhar sem me acovardar.

Ela pergunta o porquê dos óculos, digo que a ressaca me deixa sensível a luz, aparentemente satisfeita ela continua a falar enquanto seus dedos tamborilam na mesa, em um surto de coragem tomo suas mãos entre as minhas sem dizer palavra e ela espantada me pergunta o que aconteceu, respondo dizendo que a batida estava me deixando nervoso e deixo minhas mãos ali, segurando as dela e meus olhos presos aos seus desejando forças para mudar, para abandonar a timidez e tentar a felicidade com a pessoa amada, impossível... Pelo menos agora...

XXIV

Você que me lê, eu pergunto: O que esperas da vida?

Se acaso for uma pessoa, diga e eu serei essa pessoa para você. Mesmo que no fundo não tudo não passe de uma mentira, uma ilusão, ainda estarei ao seu lado não importa o que aconteça.

Pergunta-me se “mentir” é errado? Apenas quando nega a si mesmo ao fazê-lo. Se não sabe quem és, como fingir ser outra pessoa pode ser uma mentira? Talvez não esteja sozinho leitor, talvez nunca sentisse a necessidade de alguém ao seu lado. Talvez a vida lhe seja fácil e você apenas deseje se identificar com o autor dessas míseras palavras...

Peço apenas... Não, imploro apenas que não me deixes sozinho! Ficar só até o fim dos meus dias é o maior de meus medos, maior mesmo até que o medo de que meus dias acabem.

Ama-me, ama-me com força leitor, me faça sentir único e especial, existirão recompensas, sim, mas nenhuma maior do que o bem que farás a mim.