Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

Linda melodia

Deitado no meu quarto olhando para o teto, deixando os pensamentos correrem livres pelas pradarias da minha imaginação, a ouvi. A princípio bem baixinho, logo mais alto até ela dominar completamente meus pensamentos.

Uma melodia simples, mais bela. As notas se encaixando perfeitamente umas nas outras, o balanço entre graves e agudos, perfeito. Meus dedos começaram a se mover inconscientemente nas posições das notas, a partitura estava ali, pronta, bastando apenas me levantar e a escrever.

Olho para o lado e vejo minha velha flauta, companheira de muito tempo. Quantas vezes ela não foi a única testemunha daqueles sentimentos que eu não tinha coragem de mostrar a ninguém, mas que eu contava tão facilmente para ela com algumas notas?

A vontade de apanhar a flauta e executar a melodia que estava presa na minha cabeça era muita, mas eu prometi que não o faria. Não, eu não iria compor até que meu coração não doesse mais. A melodia não se conformava em existir apenas na minha cabeça, queria sair e encantar a outros, mas fui firme e fechei os olhos tentando dormir.

Quanto tempo mais até que eu cumpra essa promessa? A dor que vem do meu peito me diz que não será pouco, mas quem pode ter certeza? Até ontem não havia nada ali...

Perdoe-me linda melodia por não te deixar sair e encantar. Eu sou egoísta e ciumento, como eu possivelmente poderia compartilhar você com o mundo? Linda melodia espere aí mais um pouco, até que a promessa tenha sido cumprida...
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Primeiro post depois da repaginação, percebi que ainda não havia escrito nada sobre música e optei por 'Linda melodia' para a estréia apesar de me parecer um pouco triste.
Espero que tenham gostado e que continuem me acompanhando todas as semanas aqui, abraços.

XXXII - Final

Escuta sem ouvir.

Olha sem ver.

Fala sem dizer.

Vive a vida pela metade, no automático, com os sentidos embotados de tal forma que a vida não passe de dias, um atrás do outro, sem grandes mudanças.

Não sofra, mas também não seja feliz.

Não sorria, mas também não chore.

Não odeie, mas também não ame.

Desperta para a vida, abra teus olhos, ouvidos, boca... Abre teu corpo! Joga-te no fogo da vida e deixa que ele te consuma de uma vez e aos poucos, cada pedaço um inteiro teu e assim, inflamado de vida, queima, queima e brilha para mostrar ao mundo que a vida não são dias iguais em sucessão, mas uma surpresa a cada respiração!
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Esta meus leitores, é a última postagem do Le Renard sans La Rose.
Foram bons meses desde a primeira postagem até hoje, as postagens assim como minha vida nem sempre foram agradáveis.
Agora resta seguir em frente esperando e lutando para que o melhor venha.
A partir de segunda-feira este blog passará a se chamar Frágeis Flores, o título que inicialmente eu havia planejado e as postagens continuarão, espero que algum dia eu ainda consiga postar aqui a história da Raposa que se apaixonou por uma Rosa.
Vejo vocês na próxima semana, sempre seu,
Ciro Cruz

XXXI - Fragmentos

Com as luzes apagadas o circo era um lugar assustador, totalmente silencioso se não fosse pela música de um realejo que não parava de tocar como se estivesse convidando os mortos para o espetáculo da meia-noite. “Venham todos, o grande circo fantasma está para começar!” disse o mestre de cerimônias em suas roupas rotas sujas de terra. Quase não havia mais carne naquele rosto praticamente decomposto, ainda assim a figura esquelética continuava a anunciar o show com seu eterno sorriso sem lábios, o show dos mortos.
...

Ela não conseguia esconder as lágrimas que insistiam em aparecer sempre que o bardo tocava aquela música no seu velho bandolim. A música não era triste, longe disso, era alegre e a fazia se lembrar os velhos tempos com seus pais na casa do campo. Vai ver essa era a razão das lágrimas, aquela saudade triste de tempos alegres que não voltam, mas que esquentam o coração sempre que nos lembramos deles.
...

Ssshh... Você consegue ouvir? É a Loucura sussurrando a nossa volta. Com sua voz doce ela sussurra mansamente ao nosso redor e logo estamos impregnados Dela. Preenchendo aquele vazio dentro de nós Ela vem, velha Loucura que não pede motivos ou dá explicações. Venha, dance conosco ao som do silêncio, se entregue sem reservas a essa dança de loucos!