Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

Interlúdio II

Acho que sempre morei na Rússia. Passando alguns anos aqui, outros lá, mas sempre retornando a minha cidade natal, Moscou. Apesar de ser lá que minha história começa, não é onde ela se passa. Minha história se passa em um lugar muito mais distante e quente.

Estava sentado em minha escrivaninha, revisando alguns dados que recebi de meu contador enquanto esperava o momento certo de me alimentar, quando escuto os pensamentos de uma jovem, mais uma desejando que a morte entre pela sua janela enquanto lia um dos livros deles, exatamente em uma parte onde David Talbot narra suas lembranças do Brasil...

Levado pela narrativa envolvente (pelo menos eles são bons escritores, não há dúvida nenhuma sobre isso) e pela paixão da leitora, acabo tomando a decisão de ir ao Brasil e ver todas aquelas maravilhas com meus próprios olhos. Afinal de contas, vinte e cinco anos em apenas um lugar estavam começando a me cansar. Ligo para meu agente e agendo a viagem para a próxima semana, dando a ele tempo para me arranjar um lugar decente para ficar, faço questão de que seja uma cobertura perto da praia, não vejo mal nenhum em esbanjar um pouco, ainda mais na minha primeira viagem para fora da Rússia.

As noites passam lentamente, logo me vejo como uma criança que não consegue dormir na véspera de natal. A bebida breve já não me satisfazia, cacei como nunca, duas, três vítimas por noite. É um círculo vicioso, quando mais bebia, mais excitado ficava, e quanto mais excitado ficava, mais queria beber. Parecia que minha sede nunca iria acabar. Finalmente chega a véspera da viagem, levei apenas algumas peças do meu guarda-roupa, mesmo não sendo afetado pelo clima da mesma maneira que os mortais, o Brasil é um país tropical e andar por lá usando pesados casacos de pele chamaria mais atenção do que eu gostaria. A viagem em si não pareceu demorar muito, com apenas uma escala em Paris, sem me importar com a beleza do lugar saí para alimentar-me sem ter grande necessidade no momento, apenas precisava sentir sangue quente correndo pelo meu corpo.

Finalmente cheguei ao Rio, e nem todas as descrições de David poderiam ter me preparado para o que encontrei ali, a vida em um país tropical realmente era muito diferente, desde o comportamento até o vestuário as pessoas eram completamente diferentes das quais com que eu estava acostumado. Fiquei em uma suíte de cobertura de frente para o mar, passando minha primeira noite ali apenas contemplando a vista incrível que a Baia de Guanabara me proporcionava.

Por um mês eu me deliciei com as maravilhas da cidade e de suas pessoas, festas, recepções, boates, tudo. Havia plenitude de malfeitores para que eu pudesse matar, afinal de contas para mim era muito difícil não matar ali, o sangue dos trópicos assim como o clima é quente, quente o bastante para me deixar como que embriagado após cada refeição. Mesmo assim nem por um momento fui descuidado com meus restos, não querendo atrair atenção desnecessária para minha presença. Eu sentia como se o gelo que envolvia meu coração, me separando do mundo, finalmente começava a se derreter.

2 comentários:

nao entendi a parte 'minha primeira viagem pra fora da russia'. ele nao era de berlim e nao tem mais de 200 anos? :)
soh to comentando essas coisas chatas pq vc pediu, nao quero incomodar. gostei do texto, mudaria algumas coisinhas mas nao tem importancia, nao ha como pensarmos todos igualmente, hehe.

 

Ah, realmente, está cheio de discrepâncias historico-culturais, mas elas serão corrigidas em algum futuro distante. Eu acho.

 

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