Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

VI

"Vende-se sonhos"
Era o que dizia a simples placa pendurada sobre um porta humilde. Movido pela curiosidade entrei, e nada poderia me preparar para o que vi dentro da suposta loja de sonhos...
Brinquedos, fantasias, coisas sem fim espalhavam-se pelo lugar, sobre tudo havia uma fina camada de poeira por onde de quando em quando se podia ver o o brilho de algum tesouro escondido. Atrás de um balcão que se parecia com o palco de um teatro um velhinho sorridente me observava enquanto eu me perdia admirando o encanto do lugar.
"Então você quer um sonho?" perguntou, eu arrancado de meus devaneios mal consegui balbuciar um sim. Como se ainda esperasse que eu dissesse algo, o velhinho continuou me observando sempre com aquele sorriso nos lábios. Sorriso sincero, daqueles trazem à tona toda a alegria que as vezes nem imaginávamos que havia dentro de nós. Acabei criando coragem e perguntando: "Que tipo de sonhos você vende?"
"Todos eles, dos mais pequenos, e nem por isso menos importantes, aos enormes que só podem ser carregados por muitas pessoas". Sem esperar que eu dissesse mais nada tirou um pequeno embrulho de debaixo do balcão, o embrulho dourado preso com fitas brancas, pequeno o bastante para caber na palma da mão, não parecia um sonho tão grande assim, ainda assim ele me disse: "Tome, este é o seu".
"Tão pequeno assim?" eu disse um tanto ressentido, sempre pensei que meus sonhos haveriam de ser colossais, daqueles sonhos capazes de mudar o mundo, mas nada assim poderia caber em um pacote tão pequeno. Me aproximei do balcão e apanhei o pacote, leve o bastante para me levar a crer que estava vazio, seria meu sonho algo bonito por fora e carente de conteúdo?
"Não se preocupe, aqui eu não vendo sonhos maduros, apenas suas sementes. Cabe a você agora cuidar delas para que seu sonho cresça grande e forte meu filho". Abri o pacote e não havia nada lá dentro, desapontado perguntei o que aquilo significava, com um tom de voz compreensivo, que fez com que eu me sentisse de novo uma criança, ele respondeu:
"Elas já estão com você, sempre estiveram, plantadas em seu coração. A loja só serve para lembrar as pessoas disso, de que todos temos em nossos corações as sementes dos sonhos, para que elas germinem e cresçam é preciso apenas de uma coisa: acreditar. Enquanto você acreditar seu sonho irá crescer forte e quem sabe um dia não se torne realidade? Agora vá meu filho, não se preocupe com o pagamento, só peço que você não deixe seu sonho morrer, isso será pagamento o bastante para mim".
Acordei com o sentimento de alegria ainda forte no peito, eu queria voltar a loja de sonhos e conversar com aquele velhinho e seu sorriso mágico. Talvez esse seja meu sonho, talvez apenas uma parte dele, agora só posso acreditar e acreditar, para que meu sonho não seja apenas um embrulho vazio.

0 comentários:

Postar um comentário