Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

Retorno

Volto a escrever aqui depois de muito tempo, tanto tempo que quem escreve hoje quase não se identifica com quem escrevia até então.

Tanta coisa aconteceu, novos empregos, novas casas, novas experiências... Espiral de experiências e sentimentos que acabaram me levando à depressão...

Fiquei desnorteado quando a depressão me alcançou, afinal de contas naquele momento, eu morava em um lugar bom, tinha um emprego bom e um salário acima da média, mas nada disso importou.

Me vi em uma situação onde simplesmente me levantar da cama a cada dia era uma batalha imensa, batalha que perdi algumas vezes...

Pela primeira vez na minha vida, me vi diante de um problema aparentemente insolúvel, um problema que por mais que eu tentasse resolver, ficava cada vez pior.

Enfim tomei uma atitude que me era até então, inimaginável: Procurei um psicólogo.

Após várias sessões,cheguei à conclusão de que a causa da minha depressão era meu emprego. Me pus então a procurar algo novo e consegui, com um ex-colega, uma oportunidade em uma empresa nova.

Assim que comecei a trabalhar no novo emprego, me senti uma nova pessoa, a depressão diminuía e parecia que meus problemas (aqueles relacionados à depressão) haviam ficado no passado. Infelizmente não foi o que aconteceu... Durante o meu segundo mês, os sintomas voltaram ainda mais fortes, foi quando percebi que meus problemas não estavam relacionados ao trabalho, mas sim ao lugar onde eu vivia.

Foi quando tomei uma decisão drástica: Me demiti e voltei para a casa dos meus pais.

O timing não poderia ser melhor, todos os meus irmãos estavam empregados e não precisavam mais de ajuda financeira, nem dos meus pais, nem de mim.


Continua...


Magia e Passárgada

Sangue, aço e magia. Sempre magia, claro. O que mais haveria de manter esse nosso mundo caótico unido além de magia?

Sangue derramado por aqueles que morrem, aço brandido por aqueles que matam e magia respirada pelos que vivem e devorada pelos que já morreram.

Hoje o aço é diferente, de espada passou a carro, o sangue continuou o mesmo e a magia parece ter se esgotado, será?

Dificilmente, ainda vivemos, o mundo ainda existe, certo? A magia ainda existe, escondida aqui e acolá, na mente dos loucos, no coração dos poetas, em uma flor que se abre em um dia que começa.

Vê-la e domá-la que se tornou difícil, quase impossível. Os escritores a domam por meio de letras, os músicos por meio de notas, os atletas por meio de feitos inalcançáveis pelo humano comum.

E você, onde se enquadra? Consegue ver a magia ou é mais um entre a multidão de perdidos que de um tempo para cá ameaça cobrir o mundo completamente?

Deixo-te com esta pergunta e vou-me. Vou-me embora para passárgada, pois lá sou amigo do Rei.

Que seja

Que seja frio como o gelo, mas que queime como o fogo
Maleável como a água e imprevisível como o ar.
Que seja o tudo e também o nada.
Mas sem existir, porque o que existe um dia acaba e ainda tem muito chão,

E a vida é uma longa estrada.

6

3,
Três palavras apenas,
Três coisas pequenas.
3,
Três sorrisos sinceros,
Três amigos austeros.
3,
Três decepções sofridas,
Três dores não esquecidas.
3,
Três encontros,
Três outros desencontros,
3,
Três desejos,
Três vezes o mesmo ensejo.
3,
Três caminhos para seguir,
Três vidas a sentir.

Vazio.

Às vezes eu me sinto quebrado, com defeito, como se alguma coisa importante faltasse na minha vida.


São momentos não importantes, como assistir uma partida de futebol em uma festa, onde os homens ficam o tempo todo dando palpites, xingando e gritando com a televisão como se algo fosse mudar, enquanto as mulheres todas se reúnem em uma mesa onde todas as pessoas do sexo oposto são inimigos e qualquer homem que ousar de aproximar é fuzilado com olhares de tal intensidade que me fazem grato por olhares não matarem.

Momentos assim me fazem desejar um amigo, alguém com quem conversar abertamente sobre quaisquer assuntos de meu interesse sem me sentir mal por não saber quem está no paredão do BBB.

Há muito abandonei a televisão, não deixei de assistir totalmente, pois sempre que vou a casa de minha tia passo o final de semana assistindo, mas em casa, minha TV se tornou apenas um criado mudo, longe de qualquer tomada da casa, a pobre coitada só foi ligada uma vez, quando a comprei.

Seria tão mais fácil abandonar tudo, me perder na vida... Tão mais fácil...

Natal

Já estamos naquela época do ano novamente, os enfeites, os presentes e mais uma vez eu falho em ser contaminado pelo espírito natalino.

Olhando para trás eu vejo que que sempre foi assim, o que parecia espírito natalino não era nada além de me fazer de bom para ganhar o presente que havia pedido. Triste, não?

Hoje longe de casa (o terceiro Natal que não passo junto a meus pais) e crescido, não existe a antecipação por presentes, os únicos que receberei serão apenas os que eu decidir me dar e não preciso fingir que sou uma boa pessoa, pelo menos não para mim.

Ainda assim, como passarei o natal com parte da minha família, precisarei mais uma vez esconder parte do que sou das pessoas ao meu redor, vestir mais uma vez a máscara de felicidade e deixar que todos pensem que eu sou um deles, que o espírito natalino me contagiou.

Eu gostaria de saber como as coisas serão no futuro, se o Grinch finalmente irá devolver meu Natal ou se esse vazio continuará a me consumir.

Irmãzinha

Eu ainda me lembro da primeira vez que eu a vi, meu pai havia ido buscar minha mãe no hospital, enquanto eu e meus outros dois irmãos ficamos ansiosos em casa, com vários papéis-de-carta bonitinhos e cheios de mensagens carinhosas para nossa nova irmãzinha.

Então eles chegaram, meu pai todo feliz dizendo: "Venham conhecer sua irmãzinha!", minha mãe fisicamente esgotada, mas com uma cara que denotava grande felicidade.

Fiquei sentado no sofá enquanto meus irmãos rodeavam minha mãe tentando atrair a atenção daquela pessoa minúscula, escondida atrás de várias camadas de cobertinhas, todas bordadas.
A me ver apenas sentado ali sem esboçar qualquer outra reação, meu pai perguntou: "Não quer conhecer a Ledinha, Ciro?", mas não, eu não queria, tampouco tinha coragem para dizer que não.
A idéia de ter mais um irmão com o qual dividir a já escassa atenção da minha mãe não agradava. Relutante me levantei e fui até minha mãe, agora sentada no sofá com o pequeno embrulho no colo.

Quando cheguei e vi aquela coisinha rosada e com cara de joelho, não pude deixar de pensar: "Como eles podem estar tão felizes? Ela nem consegue abrir os olhos!", mas quando ela segurou meu dedo com suas mãozinhas pequenas e delicadas, não pude deixar de me apaixonar perdidamente.

E apesar dos altos e baixos da nossa relação até hoje, não consigo deixar de esquecer do firme aperto que recebi no meu dedo aquele dia, um aperto cheio de confiança e amor.