Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

XXV

O coração bate acelerado, o suor se acumula frio nas têmporas, a voz se torna um sussurro e as mãos não param de tremer. Ela pergunta o que há de errado comigo, como ela não poderia saber, sendo a causa de tudo isso? Abaixo os olhos e digo que é ressaca. Rindo ela diz que já tinha quase certeza, meu sorriso amarelo tenta acompanhá-la sem grande sucesso, o que ela não parece perceber.

“Vamos?”, sussurro mais do que falo, e ela diz sim. Saímos então em direção a sorveteria, ela me perguntando trivialidades, eu, lutando contra o nervosismo que ameaça me deixar mudo, tento responder na medida do possível.

Servimos-nos, sentamos e deixo que ela fale e fale... Minhas respostas as suas perguntas são em sua grande maioria monossilábicas e com a cara enterrada no sorvete evito um contato direto com seus olhos, em minha mente me vejo dizendo tudo o que sinto, ela dizendo que sempre sentiu o mesmo, então nos beijamos e somos felizes para sempre... Devaneios...

Quando o sorvete acaba, meu escudo se vai e tento, em vão, manter meu olhar preso ao dela, simplesmente não dá, impossível, pelo menos para mim. Lembro-me então de meus óculos escuros e os coloco podendo então me entregar ao caleidoscópio de emoções em seu olhar sem me acovardar.

Ela pergunta o porquê dos óculos, digo que a ressaca me deixa sensível a luz, aparentemente satisfeita ela continua a falar enquanto seus dedos tamborilam na mesa, em um surto de coragem tomo suas mãos entre as minhas sem dizer palavra e ela espantada me pergunta o que aconteceu, respondo dizendo que a batida estava me deixando nervoso e deixo minhas mãos ali, segurando as dela e meus olhos presos aos seus desejando forças para mudar, para abandonar a timidez e tentar a felicidade com a pessoa amada, impossível... Pelo menos agora...

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