Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

II

O céu desaba em uma chuva que parece ter pressa de ser, vem rápida e aos montes, açoitando sem piedade tudo em seu caminho. A cidade, inimigo natural da chuva, tenta em vão represá-la, prendê-la, tirar sua força e beleza, mas essa não é uma chuva comum, essa chuva é velha, sábia e ainda se lembra de quando não havia cidade e apenas a natureza dominava.

Meus pensamentos se movem para essa época longínqua, apesar de nunca tê-la vivido, posso vê-la ao ver as árvores sendo sacudidas pela chuva e o vento através da minha janela. A visão chega a ser real o bastante para que cheiros cheguem até meu nariz, cheiro de terra molhada, rico e cheio e vida, cheiro inebriante da seiva derramada por inúmeras plantas que existem ali.

Fico embriagado com a magnificência do lugar, caminho por entre as folhagens e as altas árvores, tão velhas quanto o mundo e junto ao chão a poderosa chuva nada mais é do que uma fina garoa filtrada pelas frondosas copas, a terra se mistura as folhas caídas escondendo mais vida do que meus olhos são capazes de ver. Ainda assim os animais se escondem em seus lares temendo pela segurança de sua prole, mas eu não. Tenho a floresta só para mim, somos um: ela, a chuva e eu.

O sonho acaba quando meu telefone toca, ainda estou na cidade que tomou o lugar da floresta mas ninguém parece notar isso. A chuva não se esqueceu, as árvores não se esqueceram, eu nunca esquecerei.

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