Frágeis Flores

Não chorou; sua alma era das que não têm lágrimas, enquanto lhe restam forças.

XXII

“Vamos, diga logo o que está te incomodando” disse o garoto com os cachos dourados.

“O que você quer dizer com ‘me incomodando’?” respondeu a garota dos cabelos negros.

“Nada, é só que você nunca diz nada mesmo” pensou o garoto. “Bobagem minha” ele disse a ela enquanto passada um braço sobre os ombros da garota que com um sorriso deu-lhe um beijo suave em seus lábios e se aconchegou junto ao seu peito.

Ele sabia que por mais que insistisse ela nunca lhe diria nada, ou melhor, diria com um sorriso que estava tudo bem, mas sem nunca conseguir esconder a tristeza que insistia em se mostrar em seus olhos.

“Um dia” ele disse, “não haverá mais razões para tristeza”. E a abraçou bem apertado, como se tentasse dizer com o seu corpo que ali, pelo menos naquele momento, ela não precisava mais ter medo, pois não estava sozinha.

Ela por outro lado, aconchegada como estava, ouvia o ritmo calmante do coração do garoto e não conseguiu deixar de pensar que logo chegaria a hora de partir. “Eu queria te contar tudo, de verdade” ela pensou, “mas você nunca entenderia, ninguém nunca entende. Se eu ficar, eles logo estarão aqui e irão machucar todos ao meu redor... E eu simplesmente não agüentaria ver isso acontecer novamente.”

E assim abraçados, o garoto dos cachos dourados e a garota dos cabelos negros assistiram ao pôr-do-sol de um lugar privilegiado à beira do lago, sem nunca saber o que o outro está pensando, mas entendendo o que o outro sente daquela forma especial que não precisa de palavras para acontecer. Ambos concordando que os breves momentos de felicidade, por mais fugazes que fossem, devem ser aproveitados ao máximo, afinal de contas isso é a vida real e não um conto de fadas qualquer.
P.S.: Ah, e hoje é meu aniversário.

2 comentários:

Este comentário foi removido pelo autor.
 

"[...] sabemos muito bem que os contos de fadas são a única verdade na vida."

 

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